No Tarô, o ano de 2006 será regido pelo oitavo arcano, A Justiça, e sua representação não difere muito na maioria dos baralhos: uma mulher sentada que, numa das mãos, empunha uma espada e, na outra, segura uma balança. No Tarô dos Boêmios, de Papus, e no Tarô Egípcio, ela usa uma venda nos olhos, mostrando que os julgamentos devem ser imparciais e que a justiça é cega, ou seja, igual para todos. No Tarô de Arthur E. Waite, um dos fundadores da Golden Dawn (Aurora Dourada), A Justiça e A Força (arcano XI) trocam de posição e de número. No baralho idealizado por Aleister Crowley, rico em simbolismos de diferentes tradições da sabedoria antiga, sua denominação é Ajustamento, e traduz a importância de se estar centrado e em equilíbrio interior para que tudo se desenvolva a contento.
Para Oswald Wirth, o oitavo arcano inicia o segundo setenário, que diz respeito à alma (o primeiro setenário relaciona-se ao espírito e o terceiro, ao corpo), e é "a divindade manifestada pela ordem e harmonia da natureza". Para Eliphas Lévi, representa a vida eterna, enquanto que para Paul Marteau, é "o julgamento imposto ao homem, através de sua consciência profunda, para avaliar o equilíbrio e o desequilíbrio gerado por seus atos, com suas consciências felizes ou dolorosas". Albert Cousté conclui que "nada pode viver sem cobrir a distância entre a origem e o equilíbrio, já que os seres não existem a não ser em virtude da lei à qual estão submetidos". Segundo Hajo Banzhaf, trata-se de colher o que se plantou, ou ter o que se merece, como diz Rachel Pollack.
Na Cabala, a letra hebraica correspondente ao arcano é Heth, cujo valor numérico é oito, e significa campo aberto para o cultivo: é o reino passivo para o qual se volta a atividade do Conquistador do sétimo arcano (O Carro - acesse artigo indicado abaixo no LEIA MAIS).
Universalmente, é o número do equilíbrio cósmico, assim como da roda da lei búdica, das pétalas do lótus e das sendas do Caminho. É o valor de mediação entre o quadrado e o círculo, entre a Terra e o Céu, relacionando-se ao mundo intermediário. Na mitologia egípcia, é Maat, quem presidia o tribunal de Osíris, pesando a alma dos mortos a fim de determinar seu destino no mundo inferior; e na mitologia grega é Têmis, divindade justiceira. O oito deitado é o símbolo da lemniscata e representa a eternidade.
A Justiça é a vontade (O Mago) de vitória (O Carro), o conhecimento (A Sacerdotisa) que leva à boa escolha (O Enamorado), a inspiração (A Imperatriz) somada à conciliação (O Hierofante) e a ação que corresponde a uma reação (O Imperador duas vezes). Sendo a experiência da responsabilidade, ela vai muito além de significados como equilíbrio, organização, sentido prático, disciplina, e, como seu nome indica, justiça, pois trata da lei do carma, ou lei de causa e efeito, a justa recompensa ou o castigo merecido, o equilíbrio e a compensação.
Em síntese, ela indica a necessidade de se prestar atenção a cada ato, e o despertar da consciência de que cada um de nós é responsável pelo que ocorre em nossas vidas e repercute ao redor, enfim, a responsabilidade individual que tem conseqüências no coletivo. Sem esquecer a responsabilidade de ricos e poderosos, que teimam em virar as costas à fome, à miséria e ao sofrimento decorrente, à desigualdade social e ao desequilíbrio ecológico. É preciso que se desenvolva uma nova consciência, baseada na justiça, na compaixão e na solidariedade.