Tempos de Colégio (5)

Inês, ao fazer uma furiosa faxina na minha caixa postal acabei perdendo os comentários que você acrescentou à nossa merenda. Você poderia mandar novamente? Hoje nossas lembranças estão totalmente por conta do figuraça Jaime de Moraes que entrou no Mendes em 1954 ficando até o final de 1961. Ele repetiu o terceiro ginásio já que, como ele diz, "a bagunça era muito boa para se ficar tão pouco tempo naquela Escola...". Que figuraça é esse meu bom amigo!




Antes do final do ano, mais duas confusões. Na primeira, não tive absolutamente nada com o fato. Carlos Antonio, havia arranjado em pleno outubro uma bomba que restara das festas juninas. Era daquelas graúdas, pouco mais grossa do que um lápis, mas que faziam um estrondo ensurdecedor.

Durante a aula de encadernação ela havia feito meticulosamente uma réplica da bomba, utilizando sobras de papel Kraft e restos de barbante. A coisa era perfeita... Para dar um melhor acabamento, enfiara um palito de fósforo no lugar do pavio. Eu havia contribuído um pouco no trabalho, passando uma leve camada de cola nas extremidades.

Nas aulas seguintes, aproveitando-se da pouca audição de Dona Claudia, a professora de Desenho, passou a apavorar os colegas vizinhos, passando o palito de fósforo da bomba fabricada por ele na caixinha que guardara embaixo da mesa. Da primeira vez que fez isto, todos nós saímos de perto tão logo o palito de fósforos foi riscado, emitindo o chiado característico.

Na segunda vez, fiquei no mesmo lugar, pois sabia que nada aconteceria. Sabia que a bomba era aquela feita na oficina de encadernação... Riscou... fingiu que se apavorou... os colegas fugiram, e ele simplesmente soprou o palito de fósforo que fora mais uma vez substituído.



Foi então para o meio das meninas... Levou a mão ao bolso, retirou a bomba, riscou... Pânico entre as garotas... O Carlos Antonio a rir... Mas algo não estava muito certo... A bomba continuava a chiar, lançando para o ar a fumaça do pavio.



Somente após alguns segundos é que o Carlos Antonio percebeu que havia trocado as bombas no bolso das calças. Aquela era a bomba verdadeira!

Rapidamente lançou a bomba pela janela da sala, em direção ao cercado dos gansos, porém não houve tempo necessário. Ao passar junto à janela, explodira, com um estrondo ouvido por toda o Ginásio e vizinhanças.

Mais branco do que era, o autor da façanha saiu de sala aos gritos: "Eu me entrego... Fui eu! Calma! ..." Ao cruzar na escada, com o Diretor que subia de dois em dois degraus para mais rapidamente por uma ordem na balbúrdia que se estabelecera, só ouviu de relance:

__ "Desta vez, chega!!! Está suspenso por três dias!!!"

Enquanto isto, de tanto rir, eu acabara caindo da cadeira, derrubando na queda um pote com guache verde. O conteúdo se espalhou rapidamente pelo chão, sendo quase de imediato pisoteado pelo Diretor que adentrava na sala de aula.



A outra foi com a professora de Francês, dona Maria Augusta. Conseguira a trancos e barrancos manter a média, porém havia uma animosidade ferrenha entre nós. Talvez a matéria fosse interessante, porém a professora me era insuportável. A solução era em quase todas as aulas, pedir para sair de sala por alguns momentos, lançando mão de justificativas totalmente sem fundamentos.

__ "Professora! ... Posso ir ao banheiro?"

__ "Professora! ... Posso beber água?"

__ "Professora! ... Posso marcar hora no dentista? Hoje é quinta-feira!"



Um dia ela se irritou bastante:

__ “Não! ... Não vai mais sair de sala!”

__ "Mas estou com sede.... muita sede...."

__ "Já disse que não vai!... Cale–se! ... L'éncrier est à coté du bouvard."

__ "Vou passar mal!... Estou morrendo de sede..."

__ “L'éncrier est pleine... Pare com isto! Não vai sair de sala!”

__ "Léncrier...

O tinteiro... Sim! Havia um, bem ao meu lado, em cima da mesa da Vilma...

__ "Estou com muita sede... Então vou beber tinta para caneta!"

__ “Pode beber! Não vai sair de sala de jeito nenhum!"

Por uma questão de princípios, não hesitei nem mais um momento. Coloquei o tinteiro junto à boca e tomei um pequeno gole de tinta, Parker azul real lavável. O meu aspecto com a boca toda azul, não deve ter sido dos melhores, pois dona Maria Augusta, de imediato ordenou:

__ "Saia! Lave a boca! Depois conversamos! Fora!"



Ao descer a escada, uma surpresa desagradável: O Diretor Paes de Barros subia rapidamente a escada devido a mais uma traquinagem dos alunos. Visualizei a história do Carlos Antonio com a bomba. Pensei: "Estou suspenso também...".

Porém, a reação do Diretor foi outra: Parou rapidamente, lançou um olhar sobre a minha fisionomia, que deveria estar bastante cômica com a boca e os lábios escorrendo a tinta azul e disse:

__ "Era só o que faltava!... Agora temos também um suicida na Primeira Série..."

Moacyr Waldeck e Jaime de Moraes são ex-alunos do Colégio Estadual Mendes de Moraes

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