A Martha Medeiros nos propõe uma charada sobre duas mulheres que se sentam sozinhas num cinema em filas diferentes: qual das duas está mais sozinha?
Como solução do dilema ela informa que só uma está sozinha: a que não tem um amor, a que não está com a vida preenchida de afetos. Embora comente serem situações idênticas, na realidade ela trata de condições aparentemente semelhantes. Ela mesma afirma ser este ‘estar sozinha’ apenas uma contingência do momento.
Fisicamente ambas estão igualmente sós. Ninguém as acompanha. Emocionalmente, porém, para Martha, algo as difere, uma tem o que outra não tem: uma família, alguém, um álibi.
Na prática do consultório atendi gente que tinha esses pré-requisitos e, no entanto, se sentia só. Possuir não era o bastante. O afeto alheio não as preenchia, a família e o álibi tampouco. Havia um vazio insaciável não preenchido, o do amar-se, o do ser, antes de ter.
Assim caminha a humanidade, busca fora de si, antes de encontrar em si. Segue a moda, mas não o modo...