No atendimento clínico os psicólogos se deparam com algo que, fora desse ambiente, não profissionais são capazes de perceber: é o discurso aparente e o que eles encobrem. Ele é fruto de uma prática civilizatória tida, por vezes, como educação. Aprendemos que ser mentiroso é ser educado. Ou seria ser educado é ser mentiroso?
Aproveitando-se dessa maré, seguem juntos muitos que costumam fugir à realidade (existe mesmo?) ou de situações incômodas (para si, claro). A honestidade e a verdade são aplaudidas e exigidas, mas a prática é a mentira.
Algumas poucas, das muitas, frases que discursam sobre o aparente:
__ Seu cabelo ficou ótimo...
__ Não tive tempo...
__ Quando você ligou eu não estava...
Fazemos questão de mentir para evitar nosso constrangimento. Dizer que é evitar o constrangimento alheio pode ser mais um discurso aparente...
Como disse Freud “um charuto pode ser, algumas vezes, apenas um charuto”. Ver falos erectos em tudo o que é charuto pode ser uma deformação profissional (ou mesmo não profissional). Da mesma forma, qualquer discurso pode ser aparente. Ou não. Não exagerem, por favor.
Habituamo-nos tanto ao engano que a prática maior do discurso aparente é conosco mesmo. Algumas vezes perdemos a noção se o que nos falamos é mentira ou não. O que escondemos com nosso discurso?
”Quero emagrecer.” Pode ser querer, mas pode ser um auto-engano, já que, em certos casos, a perda pela obesidade nos traz uma perda menor do que aquilo que queremos esconder. Quando o 'corpo não ajuda’, podemos mantermo-nos gordos, como queremos, e nos eximirmos de uma ‘culpa’ por não conseguirmos emagrecer.
Por um desses absurdos civlizatórios consideramos nosso corpo e nossos sentimentos, em determinadas instâncias, algo separado de nós. Como nos disse Drumond: “Meu corpo não é meu corpo, é ilusão de outro ser...”
O que nosso discurso de obesidade poderá esconder?
Uma possibilidade de amenizar o ciúme do parceiro(a) que nos acreditará incapazes, com aquele corpo, de ser desejado(a) por alguém?
A tristeza que discursamos pelo procedimento de nosso parceiro(a) ao falar pejorativamente de nossa gordura poderá estar encobrindo a tristeza de nos legarmos esse corpo?
Manter a harmonia(???) do grupo familiar gordinho ficando como eles o invés de 'agredi-los’ com nosso corpo magro?
Etc, etc, etc...
Essa apresentação que aqui fazemos é um bom assunto para ser discutido em grupos de apoio como os montados pela Valéria (**). Montar grupos de apoio como ela fez é importante para os que, efetivamente, querem emagrecer. As primeiras providências são: investigar se seu discurso é aparente, conscientizar-se que um novo magro corpo só é possível com uma definitiva mudança de estilo de vida.
Discutir esse assunto nas páginas do vidaleve, em especial motivado pela Valéria, fez-me pensar... em voltar a montar grupos de redução de peso. Conversei com a nossa nutricionista e ela topou.
O que é que vocês acham?