Ponto de Partida

"Viajei por longas e loucas paragens e pousei aqui, nessa folha de recordações. Foi uma viagem como são todas as viagens longas: expectativas, cansaços, antigas e novas paisagens, alegrias, cores, decepções, vidas, amores...

Assim, a cada porto nova vida, novas esperanças, novos ares e olhares. E, como olhei cada olhar... A cada olhar, a novidade de um novo olhar. Em cada um deles novas descobertas, novos conheceres e reconheceres.

Conhecer e reconhecer não somente pelos olhares, muito pela simples presença, o exalar da essência que dispensa o olhar para ser percebida.

E, mergulhado nesse turbilhão de cores, dores, amores, saberes e ignorares, creio que cheguei ao fim...

Fim, que me engano, pois cada fim é recomeço. Fim, no sentido de finalidade, ponto partida para novos retornares.

E, agora, pousado novamente nesta folha, começo a preparar minha próxima partida, trazendo na bagagem tantos outros pontos que foram partida, tornaram-se chegada e, novamente partem. Nessa espiral que é a vida, nessa espiral que é viver. Nessa espiral que é ser...e...estar."

O texto acima é uma resposta a um e-mail que recebi durante essa semana. Uma pessoa que se questiona quanto a manter um casamento de mais de 10 anos, onde o amor parece não existir mais. Fala de desejos, de falta de sintonia, desgastes, raiva, insegurança. Embora dirigido a essa resposta, nada impede que você, caso se sinta tocado(a), se aproprie de todas as letras também.

Pontos de partida e chegada. Nos acostumamos aos inícios e fins, não nos importando com os "meios". E, na realidade, vivemos é nos "meios", melhor dizendo, "estamos" nos inícios e fins e "somos" nos "meios".

Ser e estar, sutil diferença nas palavras, enorme distância entre "levar"a vida e "viver" a vida. Viver é estar em movimento, em sincronia com a natureza, com o mundo. Tudo é movimento. E queremos congelar o movimento, emoldurar nossas melhores fotos. Fotos são registros apenas. O amor, também, tem movimento, modifica-se, renova-se, toma novas formas no amar. Se quisermos congelar o amor, é o mesmo que o colocar na redoma: ver o amor, cultuar o amor, mas não viver o amor.

Viver é correr riscos, é construir pontes, mas também enfrentar correntes. Buscar sem encontrar e, também, encontrar sem buscar. É ter certeza da incerteza. Rosas inteiras, com todos as cores, odores e espinhos.

Querida amiga, você me pede uma resposta e eu lhe proponho uma pergunta. Entendo que perguntas respondem mais que qualquer resposta. Movimento, muito movimento. Querer ser feliz é parte do processo. Revise sua bagagem. Carregue apenas o que vá lhe ser útil e... feliz viagem!

LUIZ ANTÔNIO PERILO além de psicoterapeuta, professor, hipnólogo, especializado em terapia cognitivo-comportamental, membro da Sociedade de Hipnose Médica do Rio de Janeiro, é escritor. Esse texto foi retirado de seu livro Paragens - Rio de Janeiro/RJ - (21) 3878-5183 (veja mais)

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